Natal Solidário MV – Como tudo começou e a evolução até 2019

 

Natal de 1987, e lá estava meu pai Dirceu passando um domingo típico na casa da sogra (Vó Neusa), regado a churrasco, criançada, Silvio Santos na TV e sagu de sobremesa. Ele assistia a TV propaganda de brinquedos com o apelo natalino, e os sobrinhos e primos da sua esposa Adriana, minha mãe, brincando na sala.

De repente começou a pensar na carência da piazada de Areias, em Rio Branco do Sul, cidade da região metropolitana de Curitiba, onde seu pai (Vô Dirceu) nasceu e cresceu. “Poxa vida o que vai ser do Natal daquela criançada de Areias?” “Adriana, vamos juntar uns brinquedos usados aí dos seus primos, dos filhos de amigos, e vamos lá para Areias dar pra criançada, eu vou de Papai Noel”.

E com um porta-malas cheio de brinquedo, Dirceu de Papai Noel e mais duas ajudantes, Adriana e sua prima Ana Paula (minha madrinha), aconteceu o primeiro Natal Solidário. Já pensando no próximo ano, Dirceu mobilizou clientes e equipe da MV e lá se foram dois porta-malas cheio de brinquedos. Era o início do Natal Solidário da MV.

Eu lembro que eu tinha uns 8 ou 9 anos quando fui pela primeira vez acompanhar meu pai no Natal Solidário. Não fui antes sei lá porque, era meio jacu, não foi por falta de convite. Os voluntários saiam de carreata da sede da MV até Areias. Vários porta-malas cheio de brinquedos. Era bonito de ver. Estimava-se umas trezentas crianças atendidas.

Lá tem crianças de todas as idades. Crianças de colo até crianças de 14 anos com bebês no colo e na barriga. Estas pequenas mães geralmente também pegavam um brinquedo. Justo.

No salão da Igreja São João Batista, onde ocorre a entrega dos brinquedos, é formado um corredor com bancos em que ficam os Papais Noel dos meninos, das meninas e dos bebês, e atrás dos bancos os brinquedos amontoados. “Você vai ficar de ajudante do Papai Noel dos meninos, trabalhe bastante e no final, se sobrar, você pode escolher um brinquedo, você e teu irmão”. E por alguns anos fui ajudante do Papai Noel dos meninos, eu e meu irmão Vinícius.

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Foto de alguma edição do Natal Solidário MV nos anos 90.

Me lembro que na véspera da ação eu separava os brinquedos sem uso para o Natal Solidário. Certa vez fui resistente em dar alguns bonecos, acho que do Cavaleiros do Zodíaco, mas que sequer olhava mais, ficava lá em casa, juntando poeira. E neste ano, me lembro da dolorosa despedida. Um piazinho com a camisa do Athlético (tinha que ser) demorou uma eternidade para escolher o seu brinquedo, e quando escolheu, apontou faceiro para um boneco na pilha de brinquedos: bem o Shiryu de Dragão, meu cavaleiro do zodíaco favorito! Minha mãe ou meu pai tinham colocado para doar sem eu saber.

Como algumas crianças demoravam muito a escolher, começamos a embalar os brinquedos. O que dá muito trabalho mas é muito legal, pois os brinquedos passaram a ser presentes! Todo ano um grupo passa horas embalando os brinquedos e enchendo bolas.

Um ano em especial, sobraram pouquíssimas bolas. As meninas em peso pedindo bolas de futebol. Efeito Marta, talvez.

E de repente, os porta-malas não eram mais suficientes. Um caminhão de brinquedos chega à comunidade.

O Natal Solidário crescia cada vez mais, e os porta-malas não eram suficiente. Arranjamos um frete. Lembro da gritaria quando chegou o furgão com o Papai Noel: “Um caminhão! Este ano veio um caminhão!”. Eram muitas crianças e a fila crescia ano após ano. “Uns já chegam às seis da manhã”. Testemunha de um vizinho. Aquele sol de dezembro e aquela fila, dava muita dó. Resolvemos dar um lanche para cada criança e adulto que as acompanhava. Um mutirão se reúne bem cedo para preparar pão com mortadela e maionese. No ano seguinte levamos suco em caixinha, era muito quente. Mas o suco não ficava gelado o suficiente, sem contar que os canudinhos às vezes sumimos. Começamos a levar refrigerante caçulinha. Bem melhor. Certa vez fizemos cachorro-quente. Péssima experiência. Ficou uma meleca o chão do salão, o sanduíche ficava frio, acabou o gás em certa altura. Pensamos em levar esfirras do Habib’s, mas parece que eles não entregam mais de 300, algo assim. Voltamos ao pão com mortadela e maionese. Já beirávamos mil crianças!

Alguns clientes e amigos doavam brinquedos sensacionais: bicicletas, autoramas, bichos de pelúcia enormes, bonecas Barbie, Polly, até mesmo um Playstation. Estes a gente fazia um sorteio. Nossa que zona que era! Mas já chego no sorteio.

Como tinham doações sensacionais desde bicicletas até mesmo 90 cestas básicas (sim, um cara doou 90 cestas básicas, acho que em 2010), preferimos arrecadar dinheiro para comprar brinquedos padrão. Achamos mais justo. E ainda tem opção, para meninos, carrinhos ou bola. Para meninas, bonecas ou bola. E poderiam trocar caso não gostassem de um ou de outro. Numa ocasião um menino perguntou para mim: “Tio, posso trocar esta bola por outro?”. “Claro querido, está aqui seu carrinho”. “Mas eu não quero carrinho, queria outra coisa”. “Putz, só tem carrinho ou bola”. “Ah tio, então posso levar os dois?” “Não pode, é só um brinquedo por criança, vai que falta para alguém, olha a fila!” “Ah tio então vai tomar no c…!” Confesso que fiquei muito puto na hora, mas hoje rio demais desta história, apenas desejei Feliz Natal para ele.

Por falar em um brinquedo por pessoa, o que esta turma é ligeira para pegar mais de um brinquedo, é brincadeira. Tem piá que entra milhões de vezes na fila. Uns trocam de roupa. Uma vez um entrou de óculos de sol! Começamos a carimbar as crianças. Elas limpam o carimbo, simples.

Tem uma tiazinha que é muito migué. TODO ANO ela aparece com uma criança, e fica importunando por mais brinquedos pois ela tem 8 netos e 5 sobrinhos que não puderam vir. Às vezes são 5 netos e 8 sobrinhos.

Um voluntário doou uma infinidade de balas e pirulitos. As crianças amaram, o pessoal da igreja odiou. O que ficou de papel de bala no chão… Dirceu sacou uma solução fantástica: ofereceu um brinquedo extra para cada criança que recolhesse um saco cheio de lixo. A igreja, o salão, o pátio, ficaram um brinco. Hoje algumas crianças já levam uma sacola para coletar lixo em troca de brinquedos. Algumas malandrinhas chegam com sacolas cheias de pedra de brita e outras coisas nada a vê (nunca subestime a criatividade brasileira).

Passou o tempo e eu, mais velho, mais alto e mais pançudo, fui promovido a Papai Noel. Foi apenas em uma edição mais foi uma das melhores experiências da minha vida. O abraço mais sincero que já recebi, com certeza, foi como Papai Noel. Se você nunca foi Papai Noel, recomendo. Já fui Coelho da Páscoa, Mickey Mouse, mas o “Bom Velhinho” tem algo a mais. Cada abraço gostoso! Crianças contando que se comportaram, que passaram de ano, cartinhas pedindo bola, boneca. Fotos, beijos, carinho. É indescritível.

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Tem umas crianças MUITO lindas que dá até vontade de “levar”.

Lembra que falei dos sorteios, pois é, era um caos. Depois da entrega dos presentes e lanches, o pessoal pegava um número e rezava para ser sorteado. Sorteávamos cestas básicas e os brinquedos melhores. O Dirceu usava um microfone pois era muita gente aglomerada ansiosa na esperança de ganhar algo. No sorteio aconteciam coisas curiosas:

  • Uma vez certa senha sorteada, um número alto tipo 368 foi chamado, e nada da pessoa responder. Vida que segue pulávamos para outro número. Um voluntário observou nas mãos de uma senhora, minutos depois, senha de número 368! Pobrezinha não sabia ler;
  • Isto talvez explique o fato de um cidadão se “confundir” com as senhas em todos os sorteios (todo número sorteado ele alegava ser o dele);
  • Passamos a imprimir senhas de 1 a 100 em várias cores;
  • O filho do dono do mercado ganhou uma cesta básica no sorteio! Ele concordou em trocar por um brinquedo por pura e expontânea pressão. Brincadeira, teve pressão mas ele trocou bonitinho;
  • As pessoas se aglomeravam e tinha muito empurra-empurra durante o sorteio, a ponto de dificultar a entrega dos prêmios. Levamos cordas para isolar. Grande coisa, as pessoas pulavam. Levamos seguranças. Resolvido;
  • Alguns acham meio exagero contratar seguranças. Mas em edições passadas tivemos MUITAS dores de cabeça com pais visivelmente alterados. “Eu sei que vocês vão voltar aqui ano que vem!” “Se f…. a fila quero logo essa p…” Gente querendo roubar as coisas, entrar na fila várias vezes;
  • Uma vez o pau comeu entre duas meninas, parece que a sobrinha tinha pego o namorado da tia e o acerto de contas foi ali no Natal Solidário, os seguranças as convidaram a se retirar.

Papai Noel, posso trocar a bicicleta que ganhei por uma cesta básica?

Um fato foi um divisor de águas na história do Natal Solidário, e culminou com o fim dos sorteios. Em 2013, uma menina de uns 10 ou 11 anos, ganhou uma bicicleta no sorteio. Era uma bicicleta impecável, personalizada da Barbie, toda rosa e etc. Passou um tempo e a menina da bicicleta fez um pedido ao Papai Noel: “Papai Noel, posso trocar a bicicleta por uma cesta básica?”

Esta foi tensa. De cortar o coração. Na hora a cesta foi providenciada. A menina estava disposta a trocar, mas deixamos ela com a bicicleta, claro. E que humildade, que honestidade! “Papai Noel, posso trocar…” Uma criança de 10 anos. Daquele ano em diante, o Dirceu assumiu o compromisso de levar 100 cestas à comunidade. No ano seguinte foram 200. E de 2016 para cá, o Natal Solidário arrecada e leva 300 cestas básicas. Graças ao gesto de uma criança fantástica.

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Dirceu e 300 cestas básicas do Natal de 2018.

Só tenho a agradecer a todos os voluntários, por fazerem acontecer o Natal para todas estas crianças.

E você, que leu o artigo, tem alguma história curiosa ou bonita do Natal Solidário? Deixe-a nos comentários!

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